Há algo de preparação na dinâmica
dos dias: acordar, tomar café, lavar a louça, aguar as plantas, alimentar os
animais, tomar sol. O sol geladinho das manhãs de outono traz a memória primitiva humana
dos tempos em que, bebês, nos colocavam para tomar sol. Braços e pernas nus ou
cobertos, conforme a época do ano, cedo pela manhã, os bebês são expostos ao sol
pelas mãos de um adulto.
Esta pode ser a sensação de
muitos quando os dias são quase todos domingo. Cedo, o pouco movimento das
ruas envolve o sol em seus silêncios. Sentados ao sol, no silêncio das manhãs,
somos bebês sem palavras. Nada distrai nosso corpo, esponjas de claridade. Os
raios de sol no outono, perto das 7 da manhã, não são os que bronzeiam, nem os
que laceram a pele. São esperança de aquecer a alma, junto com tudo o que se
desperta: pássaros, sons de canecas, um ou outro carro, cachorros ao longe, silêncios
de gatos...
Cedo, no outono, pode-se ouvir o
mundo pela janela, como as crianças em seus tempos de peitoril, olhando a vida
que passa. Somos meninos de janela, tentando descobrir a hora certa de sair
para brincar. Ou planejando em que recanto nos escondermos, nas futuras
brincadeiras de esconde-esconde.
Hoje e todos os dias são quase fins de semana. Perto das 7 da manhã, quando
o sol ainda não arde e ainda não está bem claro, acolhemos em nossos corpos a
manhã que desperta. E guardamos para mais um dia o olhar da criança que tem na
rua um grande quadro vivo por onde seus olhos e seus ouvidos passeiam.
De domingo a domingo.
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