terça-feira, 7 de abril de 2020

AGUADA


A água lava tudo por onde passa. Se pelos olhos, lágrima. Se pelos rins, urina. Se pelas artes, aguada. Aguada é o gênero de pintura em que se dilui a tinta com água, obtendo-se uma cor transparente.

Na aguada, a tinta escorre pelo papel e registra sua passagem com maior ou com menor intensidade. A água conduz as tintas que se misturam: pigmentos em festa! Amarelos e azuis: verdes. Amarelos e vermelhos: laranjas. Azuis e vermelhos: roxos. 

A água, fluida, caminha solta entre os pigmentos, misturando-os sem o controle total de quem pinta. A aguada tem vida própria. É ela mesma a artista que cria sua paleta, sem o absoluto controle de quem está do lado de fora. Nela, o líquido é o caminho dos matizes, a medida da intensidade, a mão que pesa ou que alivia. É, desta forma, a vida ao sabor do instante. 

Por isso, nestes dias em que tivemos de mudar nossos rumos, nossos planejamentos, nossos compromissos, precisamos ser aguada para descobrirmos as nuances das cores, partindo do primário para chegarmos ao secundário.  É preciso que sigamos os caminhos que a água nos traz. Só então seremos aguada, onde a cor não encontra barreiras: escorre, espalha-se, busca seus contornos e segue, mesclando matizes.

Água e pigmento dançam juntos, embrenhando-se papel adentro. Seguem. Buscam uma vida em aguada, sempre ao sabor dos caminhos. Até onde se formam os tons. Até onde todas as cores se misturam. Até onde está a essência dos marrons!

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