Certa vez, li sobre a origem das peças que pregamos nos
outros em todo dia primeiro de abril. Não me lembro dos detalhes, apenas da
sonora expressão francesa poisson d’ avril (peixe de abril). Parece que,
lá pelos 1500, alguns franceses não aceitavam o ano novo que determinava o
então recentemente implementado calendário gregoriano (primeiro de janeiro) e
continuavam a seguir o calendário antigo, cujo ano iniciava na primavera
europeia, em primeiro de abril.
Na escola, quando pequena, o
primeiro de abril era o dia em que tentávamos enganar o maior número de
colegas, oferecendo a eles alguma possibilidade “feliz”, mas irrealizável:
- Amanhã não tem aula!
- ...
- Primeiro de abril!
- Hoje não vai ter dever de casa!
- ...
- Primeiro de abril!
Evitávamos situações tristes, do
tipo “Sua casa pegou fogo!”, pois estas poderiam ser reais, e aquelas
brincadeiras de criança, antes de serem parte da celebração de um dia chamado
Dia dos Bobos, era, na verdade, o Dia do Avesso. Neste dia, tudo o que
sonhávamos poderia ser verdade. Mesmo que por alguns segundos.
Nestas duas semanas em que estamos
virados do avesso, penso nas possibilidades de eu-criança me dizer: “-Vamos ao
cinema? -... – Primeiro de abril!”. Mas já não somos mais crianças, e o avesso
nos traz diferentes possibilidades para o olhar. Assim, procuro notícias que possam
marcar este nosso primeiro de abril. Lá em São, Paulo, leio: “Voluntáriospenduram lanches em varal para ajudar moradores de rua em Limeira durantepandemia”.Primeiro de abril? Não.
Nestas duas semanas em que
estamos do avesso, podemos nos olhar do avesso também: o nosso, o do mundo,
para percebermos as possibilidades de mudança, nossa e do que nos rodeia. Neste
primeiro de abril, os segundos de esperança da infância surgem das minhas
lembranças e querem que todos os dias sigam sendo Dias do Avesso.
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