Ficar em casa o máximo que se
possa. Conversar, assistir a filmes, ler, escrever, criar. Fazer pão.
O pão. Este alimento tão simples
e tão antigo, presente entre os diversos grupos humanos, pode ser feito apenas
com farinha e água. Ele é universal. A forma de fazer pão traduz a essência de
alimentação dos diferentes grupos humanos. É tempo de fazer pão. É tempo de,
estando em casa, trazer para o alimento o toque de cada ser que o prepara.
Penso na preparação do alimento
enquanto forma de expressão humana. Algumas cenas de livros e de filmes em que
a cozinha se faz presente surgem em minha memória. No livro da mexicana Laura
Esquivel, Como água para chocolate, Tita, nascida em uma cozinha,
expressa sua tristeza e seu amor através dos pratos que prepara. Ela não podia
ir contra sua sina de filha mais nova, cujo futuro seria o de cuidar de sua mãe
até a morte. Então, expressava sua tristeza, sua dor e seu amor impossível
através dos pratos que preparava. O livro foi adaptado para o cinema em 1992,
dirigido por Alfonso Arau.
Muitos são os filmes que tratam da
relação entre os seres humanos e a necessidade de alimento, de preparo desse. Alguns deles são O
tempero da vida, de Tassos Boulmetis, Chocolate, de Lasse Hallström
(2001), A festa de Babette, de Gabriel Axel. Deste último, um flash
apenas: Babette a servir para seus patrões um jantar refinado de culinária francesa.
Alimento e sentido de vida, a transcendência rumo ao desconhecido.
Mas e o fazer pão? Este alimento tão simples e tão difícil ao
mesmo tempo, pois depositário do segredo da fermentação! Em casa, neste momento
em que muitos temos a necessidade de ficar, quer trabalhando, quer estudando,
quer criando, quer cozinhando, precisamos retomar a arte de fazer pão. A arte
de transformar o simples em essencial à vida, o não-perecível (farinha, sal,
água, fermento) em perecível (pão).
Fazer o pão é o gesto primitivo da subsistência. Os povos
antigos, desprovidos de tecnologia e de luz elétrica, guardavam os grãos que a
terra lhes dava e os transformavam até virarem pão. Depois, o distribuíam,
feitos na generosidade da sobrevivência.
Viver e escrever como fazer pão: cada dia, cada instante,
para transformar o tempo em sobrevivência.