As janelas surgem criativas e
cheias de surpresas em diferentes manifestações artísticas.
No cinema, em 1954, Alfred Hitchcock
(Janela Indiscreta) coloca em confinamento o fotógrafo L.B. Jeffries, em
função de um acidente de trabalho. De sua janela, Jeffries passa a observar a
vida de seus vizinhos e se vê envolvido na descoberta de um possível
assassinato.
Em 1988, Krzystof Kieslowiski (Não
Amarás), desperta o amor de Tomek por Magdalena, cuja vida é seguida
obsessivamente pelo jovem, que a observa de sua janela.
Mais recentemente, The
Neighbors’ Window (A janela dos vizinhos), dirigido, escrito e
produzido por Marshall Curry, recebeu o Oscar 2020 de Melhor Curta-Metragem. O
filme narra a vida de duas famílias, através da observação que um casal com
filhos faz da vida de outro casal recém-casado que lhes é vizinho de janela.
Nunca vi tantos vizinhos em suas
janelas nestes dias em que muitos de nós estamos dentro de casa. Mas minha
mente narrativa apenas consegue apreender fatos isolados: uma moça que faz ginástica,
uma cabeça de costas encostada na parede, um rapaz que brinca com o cachorro,
uma senhora que espana o sofá, um homem que toma chimarrão, outra pessoa que
toma sol no terraço do prédio... Na rua, poucos caminham, a maioria com sacolas
de comida. Nada mais do que isso.
Talvez, minha vontade cinéfila
não tenha despertado meus olhos narrativos. Então, de repente, meus ouvidos
acordam para uma canção de Beto Guedes: Paisagem da janela. Seus versos
dançam nos meus ouvidos: Da janela lateral/Do quarto de dormir/ Vejo uma igreja/
Um sinal de glória/ Vejo um muro branco/ E um voo pássaro/ Vejo uma grade/ E um
velho sinal...
Da janela do meu quarto de
dormir, vai-se embora a vontade narrativa. Surge, então, um jardim escondido
atrás do prédio aqui da frente, por exemplo.
Apenas paisagem.
Nunca a tinha enxergado antes. As
flores fúcsia escalam tão rosadas por uma parede distante dos meus olhos que
parecem chegar à minha janela. Devem estar nos fundos de uma casa que fica na
rua aqui ao lado, perto de uma garagem. Em meio a janelas, pessoas em suas
casas, paredes cor-de-burro-quando-foge, vários buquês fúcsia escalam tão alto para
se mostrarem em suas cores quentes. Agarradas às paredes sem cor, as flores despontam,
rasgando partes de concreto.
Pequenas, mas juntas, trazem cor
para toda a paisagem. E, vistas da janela de cada quarto de dormir, nutrem
lembranças e perfumes de primavera!
Adorei🌹
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirQue bom que você gostou, Carla! ������
ResponderExcluirNossa, lindo, Glau! Também tenho ido mais à janela nesses tempos de quarentena. A gente acaba prestando atenção no que nunca antes tínhamos percebido, né! Bjo
ResponderExcluirSim, Rô, com certeza! Podemos perceber o que o nosso cotidiano de horas contadas não nos deixa perceber! Obrigada pela leitura! Beijos!
ExcluirGláucia, amei teu Blog. Este tempo de reclusão, para o planeta inteiro, teve um lado bom - quantas janelas interessantes se abriram. Abraço carinhoso.
ResponderExcluirSim, Sandra! E esperamos que estas janelas sigam se abrindo, mesmo depois de podermos retomar nossa rotinas! Beijos!
Excluir