segunda-feira, 23 de março de 2020

A RUA É DOS PÁSSAROS


Acordo todos os dias no mesmo horário para trabalhar. As manhãs não esperam.
Nas segundas-feiras, as ruas são carros e pessoas a caminho. Hoje não.

Depois de dias dentro de casa, as pessoas surgem aos poucos em suas janelas. Acordam, vestem-se, conversam com seus celulares, abrem suas casas para o sol. Seus corpos estão presos em suas gaiolas. Talvez fosse o que sempre quisessem fazer: estar em casa, dormir, cozinhar, ler...

São poucos os que saem para as ruas, quase todos de passagem. Na rua, os tantos que nela moram podem, enfim, ser vistos e ouvidos: ocupam as calçadas com seus colchões, suas casas sem teto, seus animais de estimação.

As manhãs de segunda, geralmente, acordam a cidade que retoma sua vida "adulta", suas atividades comerciais, administrativas, sociais.

Hoje não.

Os dias de reclusão humana fizeram com que viessem os pássaros: bem-te-vis, quero-queros, sabiás, caturritas...Todos juntos acordam a manhã desta segunda. Posso ouvi-los de todos os cômodos da casa.

E, em minha memória poética, parodio o verso de Castro Alves:
A rua! A rua é dos pássaros!


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