sexta-feira, 10 de abril de 2020

ABRINDO JANELAS, TRANSFORMANDO MÁSCARAS


Com os teatros e os cinemas fechados, relembro espetáculos e filmes. Muitos deles nos remetem ao momento em que estamos vivendo, tempo de apreensão, isolamento, novas formas de interação. Tempo de usarmos máscaras para sairmos, mas de, ao mesmo tempo, abandonarmos nossas máscaras, em busca de nossa essência, de novas reflexões sobre um cotidiano que a corrida do dia a dia teima em banalizar.

Penso no espetáculo Imobilhados.

Imobilhados é um espetáculo do grupo Máscara EnCena que trata do cotidiano de um prédio onde moram diferentes tipos humanos: a moça bonita que busca o amor, o homem sozinho que faz música para seu pássaro, a pessoa idosa e seu xilofone, o casal jovem, a hippie esotérica, a mulher de meia-idade com mania de limpeza, o homem grosseiro e o faxineiro do prédio.

Em meio a tantos tipos (personagens que representam grupos), cada personagem vive sua própria solidão a, aos poucos, vai se desacomodando quando veem seu cotidiano interrompido por acontecimentos que não lhes são controláveis: nascimento, morte, abandono, doença...

O cenário do espetáculo simula um prédio e suas unidades (apartamentos), e a plateia é convidada a entrar no cotidiano das personagens através de “janelas” de observação. O mais curioso e belo é que entramos na vida das personagens através da iluminação, da trilha sonora, sem que haja uma palavra dita, em função da técnica de representação utilizada pelo grupo de atores: a atuação com máscaras.

Através dos corpos expressivos dos quatro atores que encenam o espetáculo, conhecemos as vidas dos moradores do prédio-cenário e delas participamos. A interação corpo-máscara tão belamente mostrada pelo grupo nos remete à Commedia Dell’arte. Máscara, corpo em movimento, assunto cotidiano e personagens tipificadas trazem ao espectador um momento único, delicado, singular, sobre a necessidade do outro para a sobrevivência e para a felicidade humana.

Nestes tempos de compreendermos a importância das janelas de das máscaras, de quando as abrir ou as fechar, de quando as usar ou as retirar, lembro a delicadeza e a beleza de Imobilhados.

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