Com os teatros e os cinemas
fechados, relembro espetáculos e filmes. Muitos deles nos remetem ao momento em
que estamos vivendo, tempo de apreensão, isolamento, novas formas de interação.
Tempo de usarmos máscaras para sairmos, mas de, ao mesmo tempo, abandonarmos
nossas máscaras, em busca de nossa essência, de novas reflexões sobre um cotidiano
que a corrida do dia a dia teima em banalizar.
Penso no espetáculo Imobilhados.
Imobilhados é um
espetáculo do grupo Máscara EnCena que trata do cotidiano de um prédio onde
moram diferentes tipos humanos: a moça bonita que busca o amor, o homem sozinho
que faz música para seu pássaro, a pessoa idosa e seu xilofone, o casal jovem,
a hippie esotérica, a mulher de meia-idade com mania de limpeza, o homem grosseiro
e o faxineiro do prédio.
Em meio a tantos tipos
(personagens que representam grupos), cada personagem vive sua própria solidão
a, aos poucos, vai se desacomodando quando veem seu cotidiano interrompido por
acontecimentos que não lhes são controláveis: nascimento, morte, abandono,
doença...
O cenário do espetáculo simula um
prédio e suas unidades (apartamentos), e a plateia é convidada a entrar no cotidiano
das personagens através de “janelas” de observação. O mais curioso e belo é que
entramos na vida das personagens através da iluminação, da trilha sonora, sem
que haja uma palavra dita, em função da técnica de representação utilizada pelo
grupo de atores: a atuação com máscaras.
Através dos corpos expressivos dos
quatro atores que encenam o espetáculo, conhecemos as vidas dos moradores do
prédio-cenário e delas participamos. A interação corpo-máscara tão belamente
mostrada pelo grupo nos remete à Commedia Dell’arte. Máscara, corpo em movimento,
assunto cotidiano e personagens tipificadas trazem ao espectador um momento único,
delicado, singular, sobre a necessidade do outro para a sobrevivência e para a
felicidade humana.
Nestes tempos de compreendermos a
importância das janelas de das máscaras, de quando as abrir ou as fechar, de quando
as usar ou as retirar, lembro a delicadeza e a beleza de Imobilhados.
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