Cedo, os ônibus já cruzam as ruas. Freiam seus apitos finos
entrecortados e em seguida seguem com seu ronco de motor. Os carros passam por
alguma falha no asfalto, dando saltos com seus calçados de pneus. Um único
carro recusa-se a fazer silêncio: deve haver algum furo em seu silenciador.
Nas calçadas, um carrinho rola sua roda metálica. Talvez
esteja indo buscar comida no supermercado. O carrinho para na calçada, espera
uma moto passar com seu som ascendente, até sumir dos ouvidos. Um martelo
golpeia ritmadamente alguma parede em construção, enquanto uma serra grita em
tom seco com um pedaço de madeira.
Os cachorros latem uns para os outros, como sempre latiram ao
se encontrarem durante seus passeios matinais. Já os pássaros cantam em bandos
dançando ao vento, que, ao mesmo tempo, zumbe tão contínuo... deslizante!
Enquanto isso, as poucas pessoas que saem a pé gritam bem
alto:
- Tudo bem com vocês!
- Sim, quanto tempo, hein?
- Sim, quanto tempo...
As poucas pessoas que saem a pé gritam bem alto, mais do que
os carros e os ônibus, mais do que os martelos e as serras, mais do que os
cães, os pássaros e o vento. Gritam. Qualquer coisa, qualquer fala. Quem sabe
por causa das máscaras, ou apenas para que todos os que estão em suas casas
saibam que ainda existem vozes humanas.
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