quarta-feira, 15 de abril de 2020

DOS SONS QUE SE OUVEM


Cedo, os ônibus já cruzam as ruas. Freiam seus apitos finos entrecortados e em seguida seguem com seu ronco de motor. Os carros passam por alguma falha no asfalto, dando saltos com seus calçados de pneus. Um único carro recusa-se a fazer silêncio: deve haver algum furo em seu silenciador.

Nas calçadas, um carrinho rola sua roda metálica. Talvez esteja indo buscar comida no supermercado. O carrinho para na calçada, espera uma moto passar com seu som ascendente, até sumir dos ouvidos. Um martelo golpeia ritmadamente alguma parede em construção, enquanto uma serra grita em tom seco com um pedaço de madeira.

Os cachorros latem uns para os outros, como sempre latiram ao se encontrarem durante seus passeios matinais. Já os pássaros cantam em bandos dançando ao vento, que, ao mesmo tempo, zumbe tão contínuo... deslizante!

Enquanto isso, as poucas pessoas que saem a pé gritam bem alto:
- Tudo bem com vocês!
- Sim, quanto tempo, hein?
- Sim, quanto tempo...

As poucas pessoas que saem a pé gritam bem alto, mais do que os carros e os ônibus, mais do que os martelos e as serras, mais do que os cães, os pássaros e o vento. Gritam. Qualquer coisa, qualquer fala. Quem sabe por causa das máscaras, ou apenas para que todos os que estão em suas casas saibam que ainda existem vozes humanas.

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