quarta-feira, 8 de abril de 2020

AMANHÃ O DIA É VERDE


Temos observado que, mesmo em Porto Alegre, uma cidade grande, grilos, pássaros, pequenos animais têm circulado livremente, em função da redução de nossa presença humana nas ruas. Com quase tudo parado, inclusive novas construções, a paisagem urbana vem recebendo visitas da natureza.

Até mesmo onde a natureza é apenas passagem para nós, podemos observar o retorno daqueles que afugentamos com a nossa presença. Ontem, porexemplo, um casal de urubus-rei foi visto num parque fechado à visitação humana por causa da quarentena, o Parque Estadual de Turvo, em Derrubadas, no nordeste do Rio Grande do Sul. Outro casal foi visto no Parque dos Aparados da Serra, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Os urubus-rei estão ameaçados de extinção, quer seja por conta da destruição de seu habitat, quer por causa do tráfico de animais. Diferentes e belos, os Sarcoramphus papa, também conhecidos como urubutingas (urubus brancos), são muito importantes para a limpeza do meio-ambiente, pois, aves de rapina, têm como alimento os animais mortos ou agonizantes, ajudando a manter o equilíbrio natural. São aves de hábito solitário e de lenta reprodução, pois a fêmea põe de um a dois ovos que, nascidos, levam cerca de três anos para atingirem a maturidade sexual.

Nestes tempos em que muitos de nós saímos de cena, a natureza retoma o espaço que dela tiramos. Isto nos faz relembrar que não somos os únicos no mundo, mas parte desta cadeia natural. Ao destruí-la, destruiremo-nos também. Trata-se do óbvio, já sabíamos disso por leituras de relatos científicos. Mas, nestes dias em que muitos humanos reduziram suas atividades, nossos olhos e nossos ouvidos podem sentir que voltaram os pássaros, os animais de todos os tipos e os diferentes tons de verde.

Hoje escrevo: “Amanhã o dia é verde”. Assim será se acordarmos para este retorno resistente da natureza, passando a efetivamente respeitá-la, pois dela fazemos parte. Apenas uma pequena parte. O amanhã poderá ser verde, fruto de espera no pé, princípio que gera, verde preparo que aguarda generosa e sabiamente o amadurecimento humano.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário